Intervenção Pictórica
2010
Fábrica Braço de Prata, Lisbon
O espectador assiste a uma sorte de deriva, tudo isto porque não existe um centro na obra; todos os ângulos e direcções são válidos à hora de assaltar a exegese dos trabalhos de Paula Prates. Estes contradizem o dirigido, dificultam a visão fácil e multiplicam as possibilidades do que, em princípio, nos resultaria familiar.
A peça apresentada, seguramente objecto, seguramente desenho, compõem-se por uma estrutura modular de madeira que suporta a intervenção pictórica. Esta inicia-se como uma pintura/desenho em grande escala que termina para deixar a própria estrutura visível, deixando a sua função de mero suporte e passando a adquirir presença na obra. Para além disso, começa a “espalhar-se” pela sala, como que de uma contaminação se trata-se.
É um exemplo de expansão em direcção ao escultórico e arquitectónico, ultrapassando a sua inevitável bidimensionalidade. Assim, a pintura, o desenho, ou como o queiramos definir, torna-se espaço físico.
“Porque hoje não é necessário expressar-se no quadro e penso inevitavelmente em Rosalind Krauss quando afirma que à medida que a fronteira entre o de dentro (a pintura) e o de fora (a moldura) começa a se apagar e romper, cabe a possibilidade de perceber até que ponto a “pintura como unidade” é uma categoria artificial, construída sobre a base do desejo, muito semelhante à “edição original”. Neste terreno indefinido e submetidos a esse grau de imprecisão, movemo-nos ao enfrentarmos propostas como a de Paula Prates, dessas que tratam de construir um novo olhar com o apoio da especulação espacial.”[1]
Paula Prates
[1] Barro, David. Lugares fora do lugar. Catálogo “Estruturas 1:1”, Janeiro de 2009, Lisboa.